Banksy
- João Alves
- 20 de abr.
- 2 min de leitura
Encontraram Banksy? Ou apenas um homem?
Publicado por João Carlos Alves
Nos últimos dias, surgiu uma notícia que fez eco no mundo da arte, nos media e nas redes sociais: um detetive privado espanhol, Francisco Marco, afirmou ter descoberto a verdadeira identidade de Banksy, o enigmático artista britânico que há mais de duas décadas deixa a sua marca no mundo com arte urbana provocadora, crítica e, acima de tudo, incógnita.
Segundo Marco, Banksy seria Robin Gunningham, natural de Bristol, nascido em 1973. A investigação, inicialmente motivada por uma aposta feita com os seus filhos, teve como base uma análise de dados eletrónicos, registos de domínios, documentos antigos e correspondência digital. A estrutura financeira do artista estaria, alegadamente, associada a um pseudónimo: David Jones — nome verdadeiro de David Bowie — usado para manter o anonimato em transações bancárias e contratos.
Mas esta revelação é realmente nova?
Na verdade, a hipótese de Robin Gunningham ser Banksy não é inédita. Já em 2008 o jornal The Mail on Sunday avançava com essa possibilidade, baseada em testemunhos de antigos colegas de escola e conhecidos. Em 2016, investigadores da Queen Mary University of London reforçaram essa tese com base em técnicas de perfilagem geográfica, cruzando locais de intervenções artísticas com movimentos conhecidos de Gunningham.
Contudo, mesmo com tantos indícios, a identidade de Banksy permanece oficialmente não confirmada. E talvez nunca o seja.
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O que há para além do nome?
Saber o nome do artista satisfaz a curiosidade humana. Mas será que isso nos aproxima verdadeiramente da sua essência?
A identidade de Banksy é, por natureza e conceito, uma ausência fértil. Ele (ou ela, ou eles) é, antes de tudo, um gesto — um modo de estar no mundo através da arte. A figura pública de Banksy é uma não figura, uma presença construída na ausência, uma crítica ao culto do ego na arte contemporânea.
Lembro-me, ao terminar algumas das minhas obras, de olhar para elas como se tivessem sido feitas por outro — ou por vários "eus" que só existiram naquele instante criador. Há uma distância inevitável entre o que somos e o que deixamos no mundo. E talvez Banksy, ao esconder-se, apenas esteja a revelar esta verdade: o autor não importa, o que importa é o que a obra desperta em nós.
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Um testemunho, não uma captura
Mesmo que Francisco Marco tenha acertado, o que encontrou foi apenas um homem — um testemunho de passagem. A verdadeira identidade de Banksy está espalhada pelos muros que pintou, pelas consciências que tocou, pelas perguntas que nos deixou. Reduzi-lo a um nome seria amputar o mistério que o tornou símbolo.
A arte de Banksy não precisa de rosto. Precisa de contexto. De presença. De pensamento.
Por isso, deixo aqui esta reflexão não como desmentido ou confirmação, mas como convite: que continuemos a olhar para a arte como espaço de liberdade e incógnita. Que não aprisionemos o criador na cela do nome. Porque talvez, no fundo, Banksy só exista onde não o conseguimos agarrar.
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Fontes consultadas:
Diário de Notícias – Detetive espanhol desvenda identidade de Bansky: chama-se Robin Gunningham, mora em Bristol e tem 51 anos
AS.com – Un detective español desvela la verdadera identidad de Banksy
Queen Mary University of London – Geoprofiling of Banksy artworks
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