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3º Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis - CLBMCS 2018

Atualizado: 22 de mai.


Palestra no CLBMCS 2018: A Arquitetura Vernácula em Madeira como Premissa da Construção Contemporânea


Foi com grande honra que participei como orador no Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis (CLBMCS 2018), realizado na Universidade de Coimbra. Este evento reuniu investigadores, engenheiros e técnicos de Portugal e do Brasil para refletir sobre o futuro da construção sustentável, com foco em materiais regenerativos e soluções construtivas de base biológica.


A minha comunicação teve como título “A Arquitetura Vernácula em Madeira como Premissa da Construção Contemporânea”, e foi sustentada por um documento técnico-científico que explora a aplicabilidade, relevância e valor construtivo e ambiental das técnicas ancestrais em madeira no contexto dos desafios atuais da arquitetura sustentável.


Objetivos

  • Dar a conhecer várias técnicas de arquitetura vernácula em madeira;

  • Demonstrar o seu potencial face ao conforto energético, à redução de emissões de CO₂ e à análise de ciclo de vida;

  • Apresentar exemplos reais da sua aplicabilidade na arquitetura contemporânea.


Contextualização

As premissas da arquitetura vernácula permanecem válidas na prática arquitetónica atual: aproveitamento dos recursos locais, adaptação ao clima, respeito pela cultura construtiva regional e integração com o meio ambiente. Estas construções, frequentemente com séculos de existência, provam a eficácia das soluções construtivas tradicionais, cuja durabilidade está muitas vezes associada apenas à falta de manutenção e abandono.

A evolução dos "engineered wood products" no século XXI reforça esta tendência. Como afirmou Alex de Rijke (2015):

"Se o século XIX foi o século do ferro e o século XX o do betão armado, então o século XXI é o século da madeira engenheirada."

Com propriedades térmicas excecionais e origem renovável, a madeira permite responder às exigências das diretivas europeias, nomeadamente a EPBD e os requisitos nZEB (Nearly Zero Energy Buildings).


Contributo técnico-científico

A arquitetura vernácula em madeira baseia-se em tecnologias de baixa complexidade técnica, como o uso de madeira maciça de pinho bravo (Pinus pinaster) para estruturas de pisos, coberturas e paredes, combinadas com revestimentos naturais de terra, cal e gesso.

A regulamentação europeia introduzida pelo Decreto-Lei n.º 118/2013 estabelece como meta edifícios novos com necessidades quase nulas de energia (nZEB), exigindo um desempenho energético elevado com recurso a fontes renováveis. Neste contexto, a madeira permite soluções que vão além dos mínimos legais, sendo o único material estrutural principal com origem 100% renovável e com contributo positivo na análise do ciclo de vida.


Aplicabilidade contemporânea

As técnicas vernáculas em madeira oferecem hoje soluções compatíveis com as exigências normativas e ambientais, seja em obras de restauro, reabilitação ou em construção nova. Sistemas como o tabique duplo com enchimento em fibra de madeira e reboco natural, integrados com barreiras de vapor e membranas transpirantes, representam alternativas viáveis, duráveis e de elevado conforto.


Estado da Arte

A bibliografia e investigação analisada inclui contributos fundamentais para o reconhecimento da validade técnica e cultural da arquitetura vernácula:

  • Cenicacelaya & Baganha (2004) – Arquitetura tradicional como racionalidade construtiva e sustentável;

  • Projeto VERSUS (2014) – Integração do conhecimento vernáculo na arquitetura eco-responsável;

  • Mónica Alcindor (2011) – Reabilitação e habitabilidade de edifícios rurais;

  • J. Vaz (2010) – Técnicas portuguesas de construção em madeira e o seu potencial contemporâneo;

  • Bahamón & Soler (2008) – Relações formais entre arquitetura vernacular e contemporânea;

  • Almeida, Ferreira & Rodrigues (2016) – Definição técnica e económica dos edifícios nZEB em Portugal.


Conclusão

As técnicas construtivas vernáculas em madeira não pertencem apenas ao passado: são um repositório de soluções testadas e otimizadas que podem, e devem, ser reinterpretadas à luz das exigências atuais. A construção contemporânea tem, na madeira e na cortiça, aliados naturais para uma arquitetura de identidade, durabilidade e baixo impacto ambiental.

Construir com madeira é, mais do que nunca, construir com consciência.

Para saber mais sobre os sistemas construtivos abordados ou visitar projetos realizados, visite www.ecosistema.pt

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