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A IA e a transformação da arquitetura.




Em 2000, quando escolhi a madeira como linguagem construtiva, não era moda — era resistência. Via nela uma resposta ética e ecológica ao colapso silencioso do modelo construtivo vigente. Mas hoje, 25 anos depois, percebo que esse gesto era apenas o início de algo maior. A madeira abriu-me os olhos para uma arquitetura enraizada na vida; a Inteligência Artificial (IA) está a mostrar-me que podemos ir ainda mais longe: projetar com a própria vida.

A IA não é inimiga da sustentabilidade — é a sua mutação evolutiva

Durante anos falámos em eficiência energética, economia circular, ciclo de vida. Mas a IA está a alterar o campo de jogo. Com ela, conseguimos não só simular — mas prever, ajustar, reprogramar. Otimizar estruturas com menos matéria-prima, gerar orçamentos de precisão quase cirúrgica, desenhar em tempo real edifícios que respondem ao clima, à sombra, à presença. A IA não é apenas um “upgrade” ao BIM. É um salto ontológico: transforma edifícios em sistemas que aprendem, evoluem e interagem.

Da casa eficiente à casa viva

Vejo um futuro onde projetamos edifícios como organismos. Paredes que respiram, materiais que se regeneram, espaços que se moldam ao ritmo biológico de quem os habita. Casas com biossensores, inteligência contextual, consciência térmica e respostas materiais. Chamem-lhe arquitetura adaptativa, arquitetura sensível, arquitetura viva. Tudo isso converge num mesmo princípio: habitar deixa de ser uma ação passiva e torna-se uma relação ativa entre humano e ambiente, mediada por tecnologia e por memória material.

A provocação final: será que ainda somos arquitetos?

Talvez a IA venha, sim, a redesenhar o papel do arquiteto. De criador, passamos a ser coautores de sistemas vivos. A madeira ensinou-nos a escutar; a IA pode ensinar-nos a prever, adaptar e transformar. A arquitetura do futuro não será apenas sustentável. Será simbiológica — viva, mutante, cúmplice.


 
 
 

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