Um novo material como uma semente antiga A resina natural e o renascimento da matéria viva na era da bioeconomia
- João Alves

- 31 de out.
- 3 min de leitura
Por João Carlos Alves | Eco||Sistema
No coração das florestas portuguesas, onde o pinhal exala o perfume quente da seiva, renasce um material ancestral: a resina natural. O artigo do Observador “A nova era da Resina Natural” trouxe à luz um tema que, mais do que económico, é simbólico: o regresso à matéria viva, à substância que durante séculos protegeu, selou e uniu o que o homem e a natureza criavam em conjunto.
Hoje, numa época em que a sustentabilidade deixou de ser retórica e passou a ser critério técnico, a resina volta a ocupar um lugar essencial na bioeconomia florestal. Esta transformação não é apenas industrial: é cultural, ecológica e arquitetónica.
Da floresta à construção: um ciclo completo
A extração da resina representa uma nova forma de valorização da floresta portuguesa, especialmente do pinheiro-bravo (Pinus pinaster), espécie que domina grande parte do território e que há décadas sofre com o abandono e os incêndios.
Ao criar uma economia de proximidade baseada na extração de resina, reforça-se a gestão ativa da floresta, melhora-se a rentabilidade dos povoamentos e estimula-se o cuidado permanente com o ecossistema.
Na cadeia construtiva, a madeira e a resina são faces complementares da mesma visão:
a madeira oferece estrutura, massa e inércia;
a resina oferece proteção, adesão e durabilidade.
Ambas derivam de um mesmo princípio biológico: a autodefesa da árvore transformada em tecnologia humana.
O retorno à resina natural na era da engenharia verde
Com o avanço dos produtos de base biológica, a resina natural volta a ser estudada como componente em adesivos, colas estruturais, vernizes e compósitos de base vegetal, substituindo derivados petroquímicos.
As investigações atuais em colas bio-adesivas para CLT, LVL e Glulam já testam misturas que integram terpenos e ácidos resínicos compostos extraídos do pinheiro com resultados promissores em termos de resistência mecânica e estabilidade higrotérmica.
“O futuro da construção sustentável poderá residir tanto na floresta que cresce, como na que exsuda.”
Em Portugal, empresas como a RN21 e centros tecnológicos florestais começam a posicionar a resina como recurso estratégico, com potencial de exportação e inovação em várias indústrias: desde a química verde até à arquitetura ecológica.
Madeira, resina e sentido
Para quem, como eu, vê na madeira mais do que um material — um corpo vivo de conhecimento —, a resina é o sangue que liga essa matéria à sua origem.
Reintroduzi-la na economia é mais do que um ato técnico: é um gesto de reconciliação com o território.
O pinhal volta a ser lugar de produção, e a floresta, lugar de futuro.
Referências (formato APA, 8.ª edição)
Observador. (2025). A nova era da resina natural. Observador. https://observador.pt
European Forest Institute. (2024). Bioeconomy and forest value chains in Southern Europe. EFI Publications.
Martins, C., & Dias, A. (2025). Bending properties of LVL made by Eucalyptus globulus Labill. and its potential for hybrid glulam beams. Construction and Building Materials, 418, 140015.
Silva, J., & Pereira, H. (2023). Resin tapping and the new forest economy in the Iberian Peninsula. Journal of Sustainable Forestry, 42(5), 401-420.
✳️ Conclusão
A nova era da resina natural é, no fundo, o retorno a uma sabedoria antiga.
Tal como a madeira estruturada nos edifícios contemporâneos, ela representa a continuidade entre o passado e o futuro da construção — onde tecnologia e natureza se reencontram, e onde o engenheiro e o artesão voltam a falar a mesma língua.


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